domingo, 7 de outubro de 2012

Mais uma vez...fez-me pensar!!!

Sobre a morte da Margarida Marante...

Mulheres que amam demais.

Hoje morreu uma mulher que tinha tudo para dar certo e que deu completamente errado e isso pôs-me a pensar. A pensar nas mulheres que amam demais.
É preciso ser-se absurdamente inteligente para amar demais porque o amor assim enorme é uma grandeza física inexplicável como a energia. Tal como a dita energia, não se sabe o que é um amor destes mas sabe-se o que ele não é.
...


Por não se poder compartimentar, medir ou classificar com uma grandeza vetorial é preciso utilizar uma parte do cérebro que os comuns mortais normalmente nem sabem que existe, um espaço obscuro e violento, dotado de uma capacidade estrondosa de sentir.
Para se sentir, sem medidas, é preciso ser-se extremamente corajoso, intrépido, até.
Uma mulher destas não ama como amam as outras, ama como uma louca. Sem pudores, sem códigos, sem regras, violentamente. Prendam-na, critiquem-na, excluam-na, que lhe importa, nada pode fazer contra a sua natureza e só deixará de amar assim quando morrer.
Ela não ama o outro como outro ente em inter-acção, disso é o que há mais por aí, ela ama-se a si mesma porque engoliu o outro e o pôs dentro de si e é por isso que se ficar sem ele caminhará pelas ruas perdida com o olhar vazio dos dementes.
Esta mulher não perdoa porque os erros próprios já estão explicados antes de serem cometidos, não se afasta porque ninguém consegue alienar-se de si mesmo mas sofre porque passa a ter o dobro das dores e mantem um único coração para as amparar.
Eu conheci a Margarida em pequena, eu tinha 10 anos e ela uma aura sedutora que só teem as pessoas que sabem que teem direito a tudo. Muitos anos mais tarde, no novo milénio, a aura mudou, era a de quem tem tudo, ponto final.
Que pena ter morrido. Não sei. A vida só se dá para quem se deu, já dizia o poeta, e as mulheres assim dão-se todas, inteiras, com a força que tem a verdade de um código genético ancestral. Quando já não houver nada que as sustente naquele Olimpo mágico e exclusivo, não lhes peçam para que desçam à terra e falem sobre sapatos, seria corromper a própria natureza e as pessoas inteligentes não fazem isso.
As mulheres muito inteligentes sabem, ao contrário das outras, que a sua condição de mulher implica amar assim, desmesuradamente, e é por isso que se eviscerarem o móbil do seu amor de dentro de si nunca mais sorriem e fica-lhes o coração a bater descompassado, que o coração é músculo forte mas há dores que nem ele aguenta.
A descoordenação e a dor de quem anda com parte do corpo arrancado é muito triste de se assistir e torna até a mais bela das mulheres numa Carlota Joaquina despenteada a bater com os sapatos no casco do navio.
Se o coração cresce, cresce até sair pelos olhos, pela boca, pela pele quando se vive o amor desta maneira, também mirra quando ele acaba, vai encolhendo e secando até não ser mais do que uma ervilha, aliás, ao pé de um coração que amou daquela maneira, uma ervilha é uma grande coisa.
O problema é que numa ervilha não cabem duas aurículas e dois ventrículos, teem de se partir para lá caber e toda a gente sabe que um coração partido deixa de bater.

Patricia Motta Veiga

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